A CASA DE VIDRO – É preciso enaltecer a maravilhosa realização do Levante Popular da Juventude: o Festival da Resistência arrasou! Foi uma das iniciativas mais belas e potentes dos movimentos sociais brasileiros nesta época pandêmica e trouxe ao “ciberespaço” brasileiro toneladas de conteúdo novo de extrema relevância, além de ter mobilizado a solidariedade através das campanhas Nós por Nós / Periferia Viva; assista a todas as 9 mesas de debate e a todas as atrações culturais neste post em que reunimos toda riquíssima programação: https://bit.ly/3eUkd5L. Assista abaixo o documentário Não Matem Nosso Futuro, filmado durante o ConUNE 2019 e que retrata um pouco da mobilização dos levantinos – acampados no Mané Garrincha de Brasília – em pleno Tsunami da Educação.
Jessy Dayane em Brasil de Fato – “É impossível falar de resistência contra a ditadura e todo seu significado de repressão e censura no Brasil sem lembrar dos Festivais da Música Popular Brasileira, ou do teatro de arena, ou do CPC da UNE, dentre tantos outros símbolos que marcaram a década de 60 como um período de efervescência política e cultural. Esse período duro marcado pelo massacre às liberdades também é lembrado como o momento de criações inéditas e inovadoras nas diversas expressões artísticas, e que foram eternizadas na nossa memória.
Por esse motivo, para jovens da minha geração é muito comum conhecer e saber cantar versos como “a gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar” e imediatamente ser transportado para esse momento da história e sentir a força da juventude daquela época que gritava por democracia e liberdade. Assim como, ainda hoje, quando escutamos “há soldados armados, amados ou não, quase todos perdidos de armas na mão” somos levados a refletir que a história, como a roda viva de Chico Buarque, novamente está nos colocando diante de um momento que é necessário gritar e cantar por democracia.
Os versos que citei das músicas Roda Viva de Chico Buarque e Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores de Geraldo Vandré são exemplos das canções que agitaram a sociedade brasileira através dos festivais transmitidos nas emissoras de televisão como o Festival da Música Popular Brasileira e o Festival Internacional da Canção, que foram grandes palcos de disputa política, apresentando através de metáforas inúmeras críticas ao regime militar, inaugurando canções que posteriormente ficariam conhecidas como “canções de protesto”. Os festivais consagraram diversos artistas nacionais como Elis, Gil, Caetano, Edu, Gonzaguinha, dentre outros. Além desses festivais televisivos, vários outros se espalharam pelo Brasil como os festivais universitários, fazendo do canto um grito de resistência.
O auge desses festivais vai até o ano de 1968 quando a ditadura passa para o seu momento mais truculento com o AI-5, consolidando como habitual a perseguição, a censura e a tortura. A partir desse período, artistas que contestavam a ditadura foram presos, torturados e muitos exilados, e assim, os festivais foram morrendo ao passo que as críticas foram sendo silenciadas à força.
Inspirados nesse exemplo da nossa história de luta por democracia, o Levante Popular da Juventude realizou no final de junho o “Festival da Resistência” virtual, diante do contexto de pandemia. Essa não é a primeira experiência de festival durante o atual momento de luta pela democracia – mais uma vez -, assim como também não é o primeiro festival do Levante. Tivemos desde o golpe de 2016 os festivais Lula Livre, os festivais contra os ataques às universidades públicas, agora durante a pandemia aconteceu o “Festival Fico em casa” e outros com esse caráter. E, naquele ano de 2016, logo após o golpe que depôs Dilma, o Levante Popular da Juventude também realizou um grande festival durante o seu 3º Acampamento Nacional que aconteceu em Belo Horizonte, reunindo mais de sete mil jovens de todos estados brasileiros, com seis palcos simultâneos, 10 peças teatrais e participação de mais de 100 artistas de todas as regiões do país.
Novamente, diante de um contexto de ataque contra a democracia brasileira, dessa vez com uma ameaça neofascista, os artistas brasileiros se posicionam e produzem protesto em forma de arte. É assim com a banda Francisco El Hombre quando canta Bolso Nada representando nossa indignação contra “esse cara escroto” que ocupa a presidência do Brasil. É assim com o cinema brasileiro que teve Democracia em Vertigem de Petra Costa revelando ao mundo o golpe sofrido no Brasil, e Bacurau de Kleber Mendonça e Juliano Dornelles lavando a alma dos que resistem. É assim com o carnaval, quando a Mangueira canta no seu samba enredo “não tem futuro sem partilha, nem messias de arma na mão” e põe um Jesus negro desfilando na avenida, ou quando a Acadêmicos do Vigário Geral leva ao sambódromo um palhaço com faixa presidencial e arma na mão, simbolizando o presidente Jair Bolsonaro.
Foi diante desse contexto que o Levante realizou o “Festival da Resistência” que contou debates entre artistas e/ou militantes sobre temas diversos como: racismo; fascismo; arte e cultura; meio ambiente; periferias e solidariedade; dentre outros. Tudo isso combinado com apresentações de música, poesia, fotografia, audiovisual, através de alguns convidados e outros que se inscreveram no edital do Festival, que tinha como um dos objetivos abrir espaço para uma nova geração de artistas que está produzindo muita arte e resistência!
O Festival da Resistência marcou esses dias de isolamento social conectando numa só batida milhares de jovens de norte a sul do país com uma mensagem de resistência, força e esperança, com muita troca e muito aprendizado, com muita ousadia e rebeldia. Passaram por esses 5 dias de Festival o Gog, a Benedita da Silva, a Preta Ferreira, a Petra Costa, o Gregório Duvivier, o Preto Zezé, a Bela Gil, o Leonardo Boff, o João Pedro Stedile, o Guilherme Boulos, a Jandira Feghali, a Gleisi Hoffmann, o Pastor Henrique Vieira, a Gabi da Pele Preta, a Bixarte, a Potyguara Bardo, Mãe Beth de Oxum, a banda Francisco El Hombre dentre tantos outros que estão na linha de frente da resistência democrática no Brasil.
É tempo cantar a liberdade, de cantar a igualdade, de gritar contra o fascismo, o racismo, o machismo e a LGBTfobia. É tempo do grito dos entregadores de Apps, dos jovens trabalhadores precarizados. É tempo de gritar pela saúde! E para que as vidas de uns não valham mais que a vida de outros. É tempo de gritar o nosso grito, de cantar a resistência do nosso tempo, de se inspirar na história e reinventar as formas de luta. É tempo de cantar o verbo “esperançar” como nos ensinou Paulo Freire: “Esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”.
APRESENTAÇÃO – LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE (https://levante.org.br/): “O ano de 2020 apresentou não apenas para o Brasil mas para o mundo todo uma situação bem atípica em relação a tudo que já tivemos de experiência até hoje. A chegada da pandemia causada pelo Coronavírus têm exigido mudanças drásticas no diálogo com a sociedade e, para o Levante Popular da Juventude, em meio à quarentena, enquanto não podemos ir às ruas como antes, garantir vias alternativas de se manter na luta juntamente à juventude brasileira e a outras organizações é fundamental.
Por isso, observando a capacidade e o papel que as redes sociais têm exercido para a virtualização de nossas ações e para o pensar da política como um todo, o Levante Popular da Juventude decidiu construir o ‘Festival da Resistência’ entre os dias 25 e 30 de junho. O festival virtual tem como objetivo debater com parceiros e dialogar com uma nova geração que está se indignando com as opressões históricas e tem se levantado para lutar contra elas. Durante esses dias, as redes sociais serão ainda mais um ferramenta de resistência ao governo Bolsonaro, que desde o começo da pandemia nega as consequências da Covid 19 e vira as costas ao povo brasileiro. Além disso, é um governo que diariamente reacende o fascismo através de discurso de ódio, fortalecendo o machismo, o racismo e a lgbtfobia.
Dias de muitos debates e apresentações culturais!
ASSISTA A TUDO QUE ROLOU:
MESA 1 – DESAFIOS PARA DERROTAR BOLSONARO E CORONAVÍRUS NO BRASIL
Reunimos Jandira Feghali , deputada federal do PCdoB, Gleisi Hoffmann, presidenta do PT – Partido dos Trabalhadores, Guilherme Boulos, direção do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e Jessy Dayane, coordenação nacional do Levante Popular da Juventude, para debater os desafios para derrotar Bolsonaro e o Coronavírus no Brasil.⠀
MESA 2 – A CRISE É DOS RICOS E QUEM VAI PAGAR A CONTA?
A crise econômica mundial foi aprofundada pela crise sanitária vinda com a pandemia do coronavírus. E, nesse período de crise, escancarou-se que as políticas neoliberais não são capazes de apontar saídas eficazes, a não ser aprofundar as desigualdades sociais. Para debater sobre o mundo pós pandemia e a possibilidade de disputa de projetos e ideias transformadoras, bem como isso impacta a América Latina e no Brasil, contaremos com a participação do dirigente nacional do @Movimento Sem Terra , João Pedro Stédile; a professora titular (senior) do Departamento de Economia da FEA-USP e da pós-graduação em Economia do IPE-USP, Leda Paulani; e a militante do Levante Popular da Juventude e doutora em desenvolvimento econômico, Juliane Furno; e o militante da coordenação nacional Levante, Carlinhos.
MESA 3 – NÓS POR NÓS: PERIFERIA VIVA!
Se eles lá não fazem nada, nós fazemos por aqui! Eliane Martins, do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos; Preto Zezé, da @CUFA Global; e o escritor e @Pastor Henrique Vieira estarão com o Levante para falar sobre o processo de resistência e organização histórica nas favelas e comunidades brasileira. Neste momento, mais do que nunca, é preciso cultivar e entender a importância da solidariedade como um valor cultivado entre o povo brasileiro para que consigamos nos fortalecer e vencer a pandemia. Nesse quesito, os movimentos populares e as igrejas têm um papel fundamental, confira!
MESA 4 – NO BRASIL E NO MUNDO: FASCISTAS NÃO PASSARÃO!
Diariamente vemos o governo Bolsonaro destilar discursos de ódio por todos os cantos, mas se eles usam do fascismo para nos atacar de lá, estaremos cada vez mais organizados por aqui. Por entender a importância de resgatar a história para compreender o hoje, neste debate iremos retomar o que é fascismo e suas características e, a partir daí, debater sua atuação em nível mundial no atual contexto. O diretor executivo do Instituto Tricontinental, Vijay Prashad; e integrante da coordenação da Assembleia Internacional dos Povos, da Alba Movimentos e membro do Projeto Educação Popular (PEP) no Bronx, Nova York, Claudia de La Cruz; e o militante da Consulta Popular, Leidiano Farias, estarão com o Levante para debater quais caminhos os movimentos populares devem construir para barrar o processo de fascistização das sociedades, trazendo como elemento as lutas que têm sido organizadas de combate ao fascismo e autoritarismo pela classe trabalhadora e juventude mundo afora.
MESA 5 – ORGULHO LGBT: DIVERSIDADE RESISTE!
As gays, as bi, trans e sapatão, todas organizadas para fazer revolução! O mês de junho é o mês do orgulho LGBT e, no contexto que estamos, resgatar a importância do dia do orgulho LGBT, das lutas históricas do movimento no Brasil e no mundo, assim como apontar os desafios para resistir em tempos de Bolsonaro é mais do que necessário.Além disso, nesta mesa, também será debatido o desafio de pensar sobre a saúde mental da população LGBT e a importância de práticas de auto-cuidado e cuidado coletivo em tempos de pandemia. Para debater com o Levante, participam desta mesa: Symmy Larrat, presidentra da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT); Ruth Venceremos, militante do @Movimento Sem Terra (MST) e drag queen; Celina Batista, das Mães pela Diversidade; e Julia Aguiar, do Levante Popular da Juventude.
MESA 6 – VIDAS NEGRAS IMPORTAM
Para falar sobre as lutas históricas e os levantes recentes construídos pelo movimento negro, neste debate o Levante conta as presenças da Deputada Federal, Benedita da Silva; do rapper e canto, GOG; e das militantes do Levante Popular da Juventude Joyce Bueno e Luma Vitório. Aqui vamos refletir sobre importância da luta antirracista no Brasil e suas ferramentas de construção através dos movimentos populares e da cultura. Vem com a gente!
MESA 7 – JUVENTUDE EM DEFESA DA VIDA E DO MEIO AMBIENTE!
O mundo passa hoje pela mais grave crise ambiental e ecológica criada pelo homem, o sistema capitalista organizado no neoliberalismo, através das transnacionais extrai do solo, das águas, da biodiversidade lucros extraordinários, privatizam os bens comuns da natureza, em detrimento ao bem estar coletivo, e vidas humana. Por isso, nesta do #FestivalDaResistencia, o objetivo é debater qual o papel da juventude na luta pela defesa do meio ambiente e da vida. Para isso, convidamos a Chef de cozinha e escritora, Bela Gil; a integrante da CoNAQ E Via Campesina, Selma Dealdina ; o teólogo, escritor, filósofo e professor Leonardo Boff; e o militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Matheus Quevedo.
MESA 8 – CULTURA CONTRA A CENSURA: A ideia aqui é abordar o papel da cultura e da arte como formas de resistência, como ferramenta de luta contra as ideias reacionárias e conservadoras do bolsonarismo. Para isso o Levante Popular da Juventude convidou para o #FestivalDaResistência a multiartista e militante do MSTC, Preta Ferreira; o ator e apresentador do Greg News (HBO) Gregorio Duvivier; a cineasta Petra Costa; e a militante do Levante, Rosa Amorim. Junto com a gente, eles debatem nesta mesa como esse governo não valoriza a cultura e advoga pela censura, além de falar sobre a importância da cultura e arte em tempos de pandemia.
MESA 9 – EM CASA SIM, CALADAS NUNCA!
A luta das mulheres é histórica, em nosso passado, muitas tiveram que ir às ruas para que tenhamos conquistado os direitos que temos hoje. Mas, com o governo Bolsonaro, que destila ódio diariamente contra o povo brasileiro, temos novos desafios. O discurso do governo, que além de outras opressões, tem bases na misogenia e no machismo., traz para a luta das mulheres não apenas a necessidade de avançar nas pautas feministas, mas coloca a luta para não retroceder na conquista de direitos históricos como prioridade em nosso presente. Além disso, com o coronavírus, torna-se mais que necessário abordar o tema da violência contra mulher em consequência da ascensão das estatísticas de casos de agressões desde o início da quarentena. Para debater sobre isso, nesta mesa convidamos a cantoria e atriz, Maíra Baldaia; a militante da Consulta Popular e Gestora Publica LGBT, Janaína Lima; a militante do Movimento de Atingidos e Atingidas pro Barragens, Sonia Mara; e a diretora de mulheres da União Nacional dos Estudantes, Paulinha Silva.
CULTURA
Publicado em: 26/06/20
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
A Casa de Vidro Ponto de Cultura e Centro de Mídia